Feliz Dia da Criança!
Neste dia em que celebramos a criança de forma plena, é apresentado o novo livro de João Gomes-Pedro “A Criança na Humanização dos Cuidados de Saúde e de Educação”. Nele encontramos a história do Pedro e do seu ursinho Egas, convidando-nos “a passar do simbólico ao nosso quotidiano de regra”, num faz-de-conta com “a extensão infinita do que corresponde ao cuidar”!
Aqui fica a história, tecida com os fios do respeito, da dignidade e da ternura; uma tecelagem em que a humanização dos cuidados começa no lugar certo - a Criança!
Como, tão bem, nos diz o autor “Através da narrativa, do lúdico e do simbólico, a criança aprende a desempenhar os seus papéis sociais, e os adultos têm, por sua vez, a oportunidade de recriarem os seus papéis de cidadania.”
Este é o nosso compromisso maior que se engrandece, assim, partilhado!
Ana Teresa Brito
“A história do Pedro e do ursinho Egas é uma delícia de recado: todos contribuímos para a desmistificação do hospital «agressor». Picas, batas brancas, aparelhos e muita gente que não conhecemos e que, nem sempre, nos é apresentada.
O Hospital dos Pequeninos é o percurso dos princípios da humanização no Hospital dos Grandes. A humanização hospitalar tem de começar na criança, com modelos de intervenção aplicados à criança. A história do Pedro e do ursinho Egas não é só́ uma «história de crianças». Através da narrativa, do lúdico e do simbólico, a criança aprende a desempenhar os seus papéis sociais, e os adultos têm, por sua vez, a oportunidade de recriarem os seus papéis de cidadania. Humanizar um hospital é o melhor paradigma de um programa educacional enquanto missão de cidadania projetada na saúde. As crianças não só́ aprendem com as histórias feitas à imagem do seu simbólico, como também constroem o seu sentido de coerência na fantasia onírica de uma representação social e moral.
A história infantil tem o enredo e a música traduzida na melodia do que é contado.
Humanizar um hospital passa, em primeiro lugar, por uma representação de um hospital dos pequeninos. Implica um projeto que visa preencher com resiliência as vulnerabilidades de quem, enquanto doente, quer ter força para conseguir ficar bom, tal como acontece com o urso Egas trazido ao «hospital» pelo seu amigo Pedro.
Salvar uma princesa cavalgando num cavalo branco tem uma dimensão correspondente a salvar o Egas de um rasgão do braço.
O «faz-de-conta» tem a extensão infinita do que corresponde ao cuidar.
Nas histórias infantis, ou em qualquer intervenção no hospital dos pequeninos, o cuidar precede sempre o curar. A enfermeira Carlota, o doutor Zeca e o cirurgião Gastão em pouco tempo passaram a ser os novos amigos do Pedro e do Egas.
Os caminhos para a humanização do atendimento — estando implicadas neste atendimento todas as vertentes antropológicas, sociológicas, psicológicas e educacionais — têm como pressuposto um novo conceito de saúde, identificado com o zelar pela dignidade e pela esperança, na pessoalidade de cada um.
Um atendimento humanizado pressupõe que há́ relações próximas como as do Pedro e do Egas, que há́ Violetas amigas e que há́ Baltazares e Anas prontos a ajudar.
É preciso entender que ter de ir a um hospital é uma solução excecional para alguém vulnerabilizado por estar doente mas, por sua vez, é uma oportunidade de reforço de vínculos, de reconstruir paixão no zelar e servir até tornar, porventura, um acidente numa recordação feliz.
A crise no decorrer do desenvolvimento infantil pode representar uma oportunidade major para a preparação de um novo Touchpoint. A «intervenção precoce» para uma humanização hospitalar começa quando se é bebé, ou quando se é criança.
O Pedro e o Egas nunca mais terão esquecido a ida ao hospital.
Trata-se de uma história sem fim onde o onírico envolve cada criança «dói-dói». «No hospital todos são simpáticos», apresentam-se, dizem bom-dia, brincam connosco e até nos dão uma maçã... Afinal, afinal, o hospital das nossas histórias tem que passar do simbólico ao nosso quotidiano de regra.”
Excerto do livro “A Criança na Humanização dos Cuidados de Saúde e de Educação”, de João Gomes-Pedro, Gradiva Publicações, SA. Maio, 2022, Páginas 183, 184