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Legado de Berry Brazelton

Recordamos e comemoramos a data de nascimento de Berry Brazelton, através de uma Newsletter dedicada ao impacto que Brazelton teve nas nossas vidas ao longo dos anos.

 

Por | João Gomes-Pedro |  Professor Emérito (Academia Portuguesa de Medicina)
Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Lisboa
Presidente do Conselho de Administração da Fundação BGP para as Ciências do Bebé e da Família

 

10 de Maio é uma das datas da nossa Identidade que este ano tem uma representação simbólica algo singular – B101B.
101 corresponderia ao número de anos feitos em 2019, ladeada essa construção mágica pelas iniciais BB (Berry Brazelton) sendo BB, a simbologia eterna do termo Bebé.
Quaisquer que sejam os números e as representações simbólicas o que será relevante é estarmos todos juntos pugnando por um ideário que inspira as nossas intervenções.
Celebramos nesta data mais um aniversário de T. Berry Brazelton
uma das figuras mais emblemáticas da vida cultural do Mundo em que vivemos.
A Herança Educacional, Científica e Clínica de Berry Brazelton atravessa quatro gerações de Profissionais que operam em múltiplas dimensões do Desenvolvimento e Infantil e Familiar.
É inestimável o que Berry Brazelton nos oferece e nos impele de modo a garantir uma intervenção continuada sobre o Bebé e sobre a sua Família.

Convivo com Berry cada dia da minha vida.
No que respeita à Fundação Brazelton/Gomes-Pedro para as Ciências do Bebé e da Família, celebramos também com os mais de mil profissionais de todos os ramos da Ciência do Bebé que terão ficado sensíveis para a mudança, enquanto mediadores de uma Cultura de Afectos na base de um modelo relacional. Contamos com todos e com cada um! Contamos com todos e com cada um!

Convivemos, de facto, diariamente, com o que já foi denominado o Século do bebé:  face às crises políticas, económicas e sociais, o Bebé surge como uma Esperança a dar sentido ao viver nomeadamente nos vários projetos que consubstanciam a Criança e a Família.
A Neurociência, consolida, hoje, grande parte do conhecimento sobre o bebé no contexto de um saber cada vez mais partilhado, não só pelos profissionais que devotam a sua vida à causa da Criança, mas também pelos cidadãos de todo o Mundo que acreditam na responsabilidade de fomentar uma verdadeira Cultura da Criança.

O Bebé, representa, estruturalmente, a nossa responsabilidade porquanto é no bebé que se projetam as estratégias que visam uma intervenção cabal a favor do respeito e das necessidades irredutíveis da Criança e da sua Família.
O paradigma das Ciências do Bebé é representado pela Criação de Brazelton – em 1973 – de uma abordagem completamente inovadora na avaliação do recém-nascido em partilha com a família e que é conhecida hoje em todo o mundo como a NBAS -  “Neonatal Behaviour Assessment Scale”.

A NBAS/NBO terá representado a evolução de uma estratégia de intervenção precoce que visa ajudar os Pais neste seu período tão sensível a compreender as capacidades e as vulnerabilidades do seu filho num sistema que é integrado focalmente no bebé, porém centrado na família, nesta oportunidade única da sua construção.

Não tenho dúvida que foi a partir de uma autêntica revolução no saber centrado no Bebé porém projetado na Família que Brazelton construiu os fundamentos de um novo modelo – “Touchpoints” que associam crise à oportunidade de intervir, por sua vez, ao longo do desenvolvimento previsto, viabilizando, assim, preventivamente a construção de um trampolim Educacional que se projeta como modelo de intervenção em cada família.
Tudo isto, se torna mais coerente com a evidência de uma vulnerabilidade familiar que percorre as duas gerações que me acompanharam ao longo da minha vida Clínica.

É grave, atualmente, a crise da família, em Portugal.
As Ciências da Família tais como as Ciências do Bebé sustentam hoje a prioridade de empreender uma intervenção precoce na inspiração  do modelo “Touchpoints”  e  de que são paradigmas a consulta Pré-Natal (1º Touchpoint) e a Avaliação Neuro-comportamental do recém-nascido - (2º Touchpoint) - da vida de cada Criança.
Tem para mim um significado extraordinário o saber que tudo o que aprendi com Berry Brazelton está contido nas múltiplas ações em que fui e sou tão só, um mediador Científico e Educacional e, de uma forma muito especial, um mediador da intervenção clínica.
Berry Brazelton, inspira, de modo único a humanização e a compreensão do diferente.
Não nos chega ser Humanos na linha evolutiva de Darwin;  é preciso sermos Pessoas.
Temos que ser profetas do Amor para tornar coerente a nossa missão Pediátrica.
O Amor nasce e cresce à medida que se vai estruturando um vínculo com alguém que nos é significativo.
Por tudo isto, dedicámos a Berry Brazelton enquanto essência do que cremos e queremos,  o meu livro “Pensar a Criança, Sentir o Bebé “.
É minha esperança neste 10 de Maio de 2019 que em cada novo ano celebrado nesta data , algum de nós torne público o que quer que seja que faça sentido à dignidade  da Criança.
É-se Criança enquanto sabemos que podemos passar por cima do Mundo, voando sobre telhados e descobrindo velas acesas que iluminam promessas saídas dos lábios de pessoas que se olham e se amam.
É este o Poema para quem leia, devagar, esta Newsletter.

 

 

"Descubra a paixão onde quer que ela esteja"

Por | Nair Azevedo, PhD
Membro do Conselho de Administração da Fundação Brazelton/Gomes-Pedro para as Ciências do Bebé e da Família 

Assim diz um dos princípios do Modelo Touchpoints, uma referência no trabalho de tantos profissionais.
Quando penso em T. Berry Brazelton é essa paixão que primeiro me ocorre. Lembrando os seus ensinamentos, nas comunicações que ouvi, nos textos que li, no que me foi dado observar nas suas interações com crianças e famílias, como não acreditar naquela convicção que só os apaixonados conseguem transmitir? Brazelton era um homem e um profissional apaixonado pelo que fazia. E com essa paixão foi inspirando o desenvolvimento de uma cultura da infância, sensível e responsável, capaz de zelar pelas melhores condições de desenvolvimento da criança.
Foi com essa paixão que fomos sendo contagiados pelo conhecimento, experiência e sensibilidade, pelo entusiasmo com que nos mostrava que o bebé é – desde sempre, desde que nasce – um ser único e competente, preparado para interagir; que os pais, a família, aqueles que acolhem a criança, vão aprendendo a ser pais/cuidadores a partir da interação com o seu bebé e são os verdadeiros especialistas; que o desenvolvimento da criança não se faz linearmente, numa sequência de aquisições progressivas, mas sim por avanços e recuos, momentos de desorganização que darão lugar a novas organizações e competências; que é na interação, pelo afeto e pelos limites, que a criança vai ganhando confiança em si e nas suas capacidades; e que a brincadeira é – desde sempre - a forma privilegiada da criança interagir, aprender e se desenvolver.
É essa paixão pela infância que a Fundação Brazelton/Gomes-Pedro procura  fazer crescer – pela formação/supervisão de profissionais e pela investigação. Acreditamos que a paixão sustentada pelo conhecimento poderá ser transformadora. E assim armados, comprometidos e atuantes, procuramos levar o pensamento de Berry Brazelton ao quotidiano daqueles que cuidam das nossas crianças.

 

 

Viva ‘Brazelton’!

Por | ELI de Odemira

(…) Das Pessoas às Equipas; das Equipas às Autarquias; das Autarquias ao nosso País. Eis uma pequena parte do texto retirado do convite da FBGP à ELI de Odemira para a redação de um testemunho sobre a ligação entre a formação realizada e a aplicação do Modelo Touchpoints no trabalho desenvolvido junto das famílias; A primeira lição já ali se apresentava! Uma só linha, tão simples e clara e afinal tão estruturante e complexa. O Modelo Touchpoints assente no Modelo de Desenvolvimento de Bronfenbrenner, ali no convite… Este é o nosso ponto, os Touchpoints surgem-nos nos mais inesperados momentos. Aliás, bem vistas as coisas, eles não surgem, nós é que os encontramos…  Quantas vezes será dita a palavra “Touchpoints” entre a equipa e também já fora da equipa? Quantos cruzares de olhares cúmplices e silenciosos disseram: Touchpoints! Quantas vezes as famílias nos ensinaram Touchpoints?   Como é que podemos, nós equipa, corresponder ao convite e transmitir um pulsar que nos conduz e nos permite caminhar seguindo uma estrela? Podemos começar abrindo a porta que nos apresenta ao mundo, enquanto Equipa de IP, através de uma frase no site da APCO, Instituição Suporte da Equipa, “Intervir a favor da criança é, também, intervir para a Paz e esse é afinal o grande desafio da nossa cidadania” (Gomes-Pedro, 2005). Sem dúvida, muita ambição, mas sem dúvida também, muita convicção partilhada. Em 2008, o Modelo Touchpoints (MT)entrou na Equipa através de um novo elemento, exaltado pelo Encontro Mais Criança, organizado pelo Professor Gomes-Pedro, em 2002. Aqui contactou com Brazelton e o seu MT, tendo iniciado, a partir de 2005  os vários níveis de formação  Touchpoints. Para a Equipa, este elemento, trazia a paixão de uma descoberta, a neurociência permitia agora não ficar pelas convicções. Agora a convicção fundamentada abria uma nova perspetiva, o encontro entre Amor, a emoção da relação e a Ciência.  Os Touchpoints foram   recebidos com um abraço completo e sintonizado por uma equipa que vinha fazendo um percurso de busca e crescimento. Foi esta contingência e nesta satisfação de espectativas, no fundo, neste sentido de coerência, como diria o Professor Gomes-Pedro, que a Equipa se sentiu motivada para o desenvolvimento de uma ação ligada ao conhecimento e de um   conhecimento ligado à ação. Em março de 2012, no 1º Encontro de IP no Alentejo, realizado em Beja, a equipa apresentou uma comunicação com o nome "Um Olhar Sobre a Relação". Esta comunicação teve o propósito de apresentar o encontro entre o Modelo Touchpoints e o Modelo de Intervenção Precoce na partilha de uma mudança de paradigma. No mesmo ano, em maio, a equipa voltou a levar os Touchpoints ao Alentejo, desta vez ao I Congresso de IP do Alentejo: 10 anos de Rede, realizado em Évora, apresentando uma comunicação com o nome "Princípios e Pressupostos do Modelo Touchpoints, uma Atitude na Intervenção”. Estava já assente na equipa que trabalhar com crianças e famílias é, sobretudo, um caminho incerto, um caminho que se constrói sem certezas e sem soluções à priori. Esta comunicação pretendia valorizar a forma como os Princípios do MT nortearam o caminho na intervenção e facilitaram a construção de uma relação de confiança junto de uma família e sobretudo, o impacto que teve na relações entre eles. Motivados pelo entusiasmo, curiosidade e sentido que este modelo suscitava, vários elementos participaram em Cursos Intensivos Touchpoints, também em NBAS e NBO. Dois elementos desenvolveram dissertações de mestrado onde o MT de Brazelton tem um lugar primordial, um elemento terminou e o Curso Pós-Graduado de Aperfeiçoamento sobre as Ciências do Bebé e da Família. Em 2015, respondendo ao desafio da Coordenadora do Projeto Im2 para contribuir com um exemplo de boa prática para a elaboração do Guia para Profissionais das Práticas Recomendadas em IPI, documento desenvolvido com a pareceria do SNIPI, entre outros, a Equipa procurou levar para o documento os Princípios de Brazelton. Embora o nosso contributo não tenha sido selecionado, Brazelton, no Capítulo 7, pela mão da Professora Ana Teresa Brito da FBGP, é uma referência neste documento. Hoje mais conscientes da identidade da nossa equipa, reconhecemos que os Touchpoints dela fazem parte e contribuíram para a sua forma. Quem trabalha em IPI e contata com a abordagem do modelo TP é tocado pela enganadora simplicidade dos seus princípios e pressupostos. Quem nesses momentos de aprendizagem teve o privilégio de observar Brazelton e os profissionais da Fundação Brazelton/Gomes- Pedro e a sua prática, percebe que se baseiam no genuíno interesse em compreender o outro, os vários significados, a si e ao mundo, saber mais e relacionar-se, procurando, com respeito, observar o que está “entre”. A partir daí passa a ser algo que queremos alcançar na nossa prática tal como na vida, e sempre que encontramos essa mestria e paixão reconhecemo-la, como o nosso foco. Este é assim o efeito que encontrou eco nos elementos da equipa. Através desta cumplicidade o MT  passou a estar, quer de forma consciente, quer inconsciente na discussão de casos, na forma como se avalia a criança e a sua circunstância, como nos propomos a descobrir cada criança única junto da família, como procuramos a melhor participação de cada criança, como reconhecemos e apoiamos a mestria,   e na colaboração que buscamos. O nosso desafio atual é o da abrangência, levando connosco os Touchpoints nesse abraço, à comunidade, aos  sistemas menos imediatos, embora certamente, continuando sempre a procurar os Touchpoints em cada uma de nós e, face a face, na proximidade, procurando manter uma sensibilidade como aquela sentida ao ler, esta semana as palavras de José Tolentino de Mendonça na Revista do Expresso“(…)O que é curioso, porém, é compreender o significado daquilo que nos faz nem nos apercebermos de umas coisas e ver imediatamente outras(…)” No fundo, o que JTM nos está a transmitir é  “tenha em conta o que traz para a interação” um princípio de Brazelton.

 

 

Modelo Touchpoints no Apoio à Vida

“Usar o coração com verdade e ciência”

Por | Apoio à Vida

Na Associação Apoio à Vida, cujo foco é ajudar grávidas em dificuldade, o Modelo Touchpoints é amplamente aplicado tanto nos Centros de Atendimento — cujas formações incluem uma “Conversa de Mães” sobre o desenvolvimento dos bebés —, como no âmbito do projeto “Famílias em Casa”. Este consiste em cinco visitas ao domicílio que, em 2016, foram reformuladas tendo em conta os marcos do Modelo

Há cerca de quatro anos, o Apoio à Vida procurava melhorar a sua resposta às Mães que acompanhava. O objetivo era ajudá-las a lidar melhor com as oscilações naturais no desenvolvimento dos seus filhos e, ao mesmo tempo, fortalecer os laços mãe-bebé. Foi aí que a então coordenadora trouxe à luz o Modelo Touchpoints, uma novidade que encaixou na perfeição nesta equipa de três assistentes sociais e duas psicólogas, que entretanto foi crescendo.

Era o que faltava
Motivada por esta forma de “por o coração com verdade e ciência no nosso trabalho”, usando palavras das próprias técnicas, a equipa foi incorporando o Modelo no seu modo de pensar e agir. Hoje, quatro técnicas já fizeram a formação introdutória NBAS/NBO, três fizeram o Curso Intensivo Touchpoints, a atual coordenadora fez também a pós-graduação na Fundação e uma das psicólogas vai em breve obter a certificação na NBO em Londres, pois ainda não existe em Portugal. As suas opiniões são unânimes: ganham as profissionais, ganha a associação e ganham as Mães acompanhadas, que fortalecem claramente os laços com os seus filhos, perdem medos e passam a ser uma influência segura e positiva no seu desenvolvimento.

Onde começa a mudança
A beleza dos momentos em que cada técnica mostra aos pais as competências dos seus bebés, ajuda a mudar paradigmas na própria profissão. E a mudança sente-se, primeiramente, no interior de cada pessoa que toma contacto com o modelo Touchpoints. “É uma abordagem que põe em causa o que fazemos e como o fazemos”, explica a coordenadora da equipa. “Em vez de ser uma relação em que o técnico é que sabe, formamos equipa com os pais, que são os peritos nos seus filhos”, continua Joana, psicóloga, referindo um dos pressupostos do Modelo. “Não somos nós que os ensinamos, apenas os tranquilizamos. Mostramos-lhes que são excelentes pais e tudo isto é uma bola de neve positiva”, explica Mafalda, assistente social. “Este Modelo distingue-se muito pela atenção aos pormenores. Chamar o bebé pelo nome, por exemplo, faz diferença para muitos pais; muda o olhar”, revela Catarina, também assistente social. “Uma das coisas que me tocou muito no Curso na Fundação foi que o olhar que nos é proposto neste modelo é exactamente o que os formadores têm para connosco. Sentimo-nos especiais e é o que queremos fazer com as nossas utentes”, lembra Paula, assistente social.

Um Modelo enraizado
Em suma, o que é ensinado nos cursos da Fundação Brazelton/Gomes Pedro é uma sabedoria que capacita as técnicas para uma intervenção mais humana e duradoura. Eleva a intervenção a um nível realmente humano, colocando os sentimentos e o amor em primeiro lugar, com resultados visíveis e muito motivadores. E sempre com a segurança de um método estudado e comprovado cientificamente.

 

 

O começo.

Por | Filipa Fareleira, MD, PhD student - PDICSS | Medicina Geral e Familiar | Family Medicine

Como é que tudo se inicia?...O bebé escondido na barriga da mãe para, como que por magia, de um minuto para o outro, passar a ocupar realmente um espaço no mundo dos que cá estão...
E não houve outra maneira que não essa, aquela em que cada um de nós começou o seu caminho. A minha paixão não é outra: é apenas o “milagre” do aparecimento - para mim sempre súbito e repentino - de um bebé; o magnetismo do seu sorriso e em como tudo se desenrola a partir daí.

Antes sequer de entrar em Medicina, tomar conta de crianças alimentou a minha dependência pelo perceber o educar, o crescer. Já nos bancos da Faculdade surge “o paradigma da mudança” que o Professor Gomes-Pedro apaixonadamente partilhava connosco escrevendo energicamente nos quadros do anfiteatro e pela primeira vez acontecia o meu contato com o Modelo Touchpoints e o mundo do Professor Brazelton. Outros tantos anos vividos, livros curiosamente folheados e outras tantas experiências alinhadas a permitir o instalar desta dependência que teimava em assentar estacas. E assentou.
Quando temos a sorte de sermos também a profissão que sonhámos e nela podermos encontrar aquela paixão que nos impulsiona na busca do saber, de um qualquer sentido, daquela que será a nossa coerência de vida, somos verdadeiramente afortunados.

E o Modelo Touchpoints viabilizou essa minha coerência.
As páginas de muitos livros do Professor Brazelton fortificaram a minha vontade de ser/saber fazer diferente com os bebés e suas famílias e nesse sentido enquanto interna de Medicina Geral e Familiar iniciei um projeto para a comunidade que permitisse que este saber fosse partilhado com aqueles por quem era responsável na vigilância da sua saúde materna e saúde infantil, assim como pelos colegas de equipa.

Foi posteriormente na Fundação Brazelton/Gomes-Pedro, com o Curso Pós-graduado em Ciências do Bebé e da Família, que o maior processo de transformação se iniciou. Na profundidade que os seus princípios implicam, no que àquilo que somos diz respeito, as palavras do Professor Gomes-Pedro definiam o que agora parece óbvio mas nada disso até então: o desenvolvimento infantil como afinal o desenvolvimento da Pessoa, do ser humano. Que eureka aquela para mim! Mas ao mesmo tempo, a violência do confronto pessoal com crenças adquiridas, julgamentos fora do lugar, a dificuldade que pode ser apercebermo-nos das nossas limitações, falhas na relação com as famílias.
E quando começamos a achar tão difícil alguma vez “fazer bem feito” surge a conferência na Gulbenkian, Valuing Baby and Family Passion Towards a Science of Happiness. Surge, caminhando com os seus 90 e alguns anos, um sorriso de corpo todo, tão magnetizante como aquele que vos escrevi no início do texto, que transporta a força da esperança e personifica todo o Modelo – a energia, a alegria, o amor do Professor Brazelton faz-nos acreditar que todos somos melhores em qualquer que seja o nosso papel no sistema familiar, aproximando-nos do querer ter uma visão mais serena, menos culpabilizante de nós próprios e dos outros.

O então projeto de promoção para a saúde, com base no Modelo Touchpoints, centrado na família e orientado para os profissionais de saúde dos Cuidados de Saúde Primários, avançou (porque se sabemos e sentimos, temos que levar a cabo) e no final da pós-graduação, motivada pela Fundação Brazelton/Gomes-Pedro na pessoa do Professor Gomes-Pedro, na Professora Ana Teresa Brito e pela Professora Mª Raul Lobo Xavier mais tarde, tornou-se o meu objeto atual de estudo de doutoramento.

Se olhar para trás, custará a acreditar o tempo que decorreu desde o início do processo. Quando imaginei o projeto, queria que fosse para “assim que possível”. Mas a mudança ainda bem que é lenta e demora – hoje aceito isso. O caminho que se tem que fazer com o Modelo Touchpoints é porventura não finito – será, a meu ver, uma tarefa pessoal constantemente inacabada na procura da disponibilidade para o outro, da compreensão, da tolerância da diferença e, particularmente, da valorização das forças que cada um obrigatoriamente tem. E é aí que se experimenta a felicidade, a gratidão do outro, aparecendo a satisfação, a realização, a alegria de um caminho. O último Curso Intensivo de Touchpoints provocou-me novos entendimentos e, como se olhasse para todo o fundamento num conteúdo novo e original, a minha coerência alargou-se. Quebrou fronteiras em que eu balizara o Modelo e tornou-se universal, para qualquer interação diária, exigindo mais de mim. O percurso pode ser tortuoso e comprido na mudança que nos obriga a reflexão. Contudo, não sei mais ver que não assim (não quero).

Este é um saber que nos aproxima a nós, cada ser humano, da nossa humanidade. Não nos deixa esquecer. (E como é fácil atualmente esquecer.)
Parabéns, Professor Brazelton. Tão grata pelo legado.
(Ai aquele sorriso de corpo todo… é uma lotaria que irei sempre partilhar com quem passar.)

 

 

Colaboração da Fundação BGP no contexto da investigação na infância

Laboratório Colaborativo ProChild CoLAB against Poverty and Social Exclusion

Por |  Ana Teresa Brito, PhD
Membro do Conselho de Administração da Fundação Brazelton/Gomes-Pedro para as Ciências do Bebé e da Família 

O caminho da Fundação Brazelton-Gomes Pedro para as Ciências do Bebé e da Família (Fundação BGP), faz-se com cada Pessoa, Equipa e Instituição com quem o percorremos, na partilha da nossa Missão – “Fomentar, desenvolver e difundir um novo paradigma de intervenção clínica inspirado num Modelo Relacional, no pressuposto de que favorecer o vínculo do bebé à sua Família tem repercussões significativas ao longo do Desenvolvimento.” (in, http://fundacaobgp.com/pt/missao)

Neste caminho, temos o privilégio de conhecer pessoas, profissionais e organizações, que procuram traduzir, continuamente - nos seus gestos, palavras, projetos, intervenção - este Modelo Relacional, potenciando, quotidianamente, desenvolvimento, aprendizagem e bem-estar em crianças e nas suas famílias. O Modelo Touchpoints é, neste percurso, o fio que nos une, numa tecelagem forte, sensível, singular, que se expressa, de forma sistémica, do micro ao macro sistema.

No campo da investigação a nível nacional, é, deste modo, um enorme privilégio para a Fundação BGP poder contribuir com formação no Modelo Touchpoints no âmbito do ProChild CoLAB against Poverty and Social Exclusion, no eixo estratégico Desenvolvimento e Educação.

A Professora Isabel Soares (Universidade do Minho) - que o dirige, com tanta mestria, a par com uma excelente Equipa - trouxe este desafio à Fundação BGP, a que respondemos com grande entusiasmo e sentido de compromisso partilhado.
A riqueza da estratégia nacional que o ProChild CoLab se propõe desenvolver, no combate à pobreza e à exclusão social, assenta numa “abordagem científica transdisciplinar, articulando os setores público e privado, vinculando académicos e profissionais no terreno, e contribuindo ativamente para políticas públicas baseadas em evidência científica.” (in, http://prochildcolab.pt/missao/).

Através de uma intervenção diversificada e integrada, pretende contribuir para quebrar o ciclo de pobreza, promovendo o bem-estar e os direitos das crianças. Concretamente, no eixo estratégico Desenvolvimento e Educação, esta intencionalidade expressa-se, no objetivo de desenvolver(mos) projetos de intervenção precoce, baseados numa nova abordagem educacional, para crianças dos 0-3 anos.

Enche-nos de esperança esta força conjunta que o ProChild CoLab representa – somos e agimos melhor juntos, projetando, intervindo, avaliando e procurando, com base na evidência reunida, possibilitar a elaboração de orientações para “formulação de políticas públicas e exercício de ações de advocacy no âmbito do combate à pobreza e exclusão social na infância.” (in, http://prochildcolab.pt/objectivos/).

Como, tão bem, sublinha Jack Shonkoff (Center on the Developing Child, Universidade de Harvard): “A base do conhecimento atual (…) está coberta pelas impressões digitais de Brazelton. O desafio que temos em mãos é claro. É tempo de criarmos uma nova era nas políticas para a infância inspirada na ciência, assente nas melhores práticas e comprometida com uma cultura de pensamento inovador e de aperfeiçoamento contínuo.” (Pedersen & Shonkoff, 2010).
É este o desafio que, CoLaborativamente, tanto queremos viver!

 

 

Participação em Projetos de Formação a Nível Local

Parceria da Fundação Brazelton Gomes-Pedro no âmbito da Plataforma Crescer Melhor em Cascais

Por |  Ana Teresa Brito, PhD
Membro do Conselho de Administração da Fundação Brazelton/Gomes-Pedro para as Ciências do Bebé e da Família 

A Câmara Municipal de Cascais (CMC) é a entidade promotora de uma Plataforma com história!
O seu início remonta a 2002, quando a CMC foi desafiada a fazer um trabalho conjunto com as Creches da rede solidária de Cascais. Sentia-se, então, uma inquietação partilhada face à resposta das creches à primeira infância, tradutora, em ação, das palavras de Kotter (2012), “A inquietação partilhada é uma única e grande oportunidade em torno da qual se cria o sentido de urgência”. Deste “sentido de urgência”, nasce o Programa de Formação/Qualificação Crescer Melhor em Cascais (2005), num compromisso em rede com o desenvolvimento e bem-estar de crianças dos 0 aos 3 anos, suas famílias e dos profissionais das creches.

Em 2011, na esteira de um caminho conducente à construção de uma verdadeira Comunidade de Práticas, a parceria foi formalizada sob a forma do Protocolo – Qualificação de Creches|Crescer melhor em Cascais. Em 2018, este Protocolo ampliou-se no Acordo Crescer Melhor em Cascais (2018-2021), constituído por 25 Entidades, com ou sem fins lucrativos, com 45 respostas de creche; entidades com competência em matéria de 1ª Infância, onde a Fundação BGP se inclui, em conjunto com a Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich, a Segurança Social, a Equipa Local de Intervenção Precoce e a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens; a Câmara Municipal de Cascais; e quatro Uniões e Juntas de Freguesia do Concelho de Cascais.

Esta Plataforma responde plenamente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), adotados pela quase totalidade dos países do mundo, no contexto das Nações Unidas. Pela primeira vez, o Desenvolvimento da Primeira infância surge no centro da agenda global, que define como finalidade, até 2030, garantir que todas as crianças tenham acesso a um desenvolvimento de qualidade na primeira fase da infância, bem como cuidados e educação pré-escolar (https://www.ods.pt/ods/).

Como sublinha o estudo da Universidade de Harvard “Das Melhores Práticas aos  Impactos Transformadores” (2016), hoje sabemos, através de décadas de ciências comportamentais e sociais e das recentes descobertas em neurociência, biologia molecular e epigenética, que para um desenvolvimento saudável são fundamentais “relacionamentos atenciosos, adultos carinhosos e experiências positivas no início da vida para a construção de uma forte arquitetura cerebral nas crianças” (in, www.developingchild.harvard.edu).

É neste contexto que a Fundação BGP se orgulha de poder contribuir para a formação dos profissionais através do Curso Touchpoints em Educação de Infância e das Sensibilização ao Modelo Touchpoints, a que as Equipas de Creche se puderam candidatar através do financiamento previsto pela CMC no âmbito do Programa Crescer Melhor em Cascais. Cerca de 300 formandos – em que se incluem Educadores de Infância, Auxiliares de Ação Educativa, Amas e Famílias – têm caminhado com a formação neste Modelo Desenvolvimental e Relacional, que tanto procura aproximar os profissionais e as famílias na oportunidade maior de, juntos, acompanharem o desenvolvimento, aprendizagem e bem-estar das crianças.
Na finalidade da CMC em criar uma rede com respostas educativas promotoras da inclusão social dos 0 aos 3 anos, engrandecemos a missão da Fundação BGP, no compromisso partilhado de valorizar a 1ª infância, qualificar as organizações e os profissionais.

Através do Modelo Touchpoints de Brazelton, queremos promover a qualidade dos contextos educativos, potenciar o envolvimento e participação das famílias, fomentar uma intervenção preventiva e inclusiva e irradiar uma Cultura da Infância (Gomes-Pedro, 2016). Neste percurso, associamo-nos plenamente à visão do Brazelton Touchpoints Center e do seu Mestre maior, Berry Brazelton: “Contribuir para que todas as crianças cresçam e se tornem adultos capazes de enfrentar a adversidade; fortalecer as suas comunidades; participar construtivamente na vida cívica; administrar os recursos do nosso planeta e Cuidar da próxima geração, preparando-a para fazer o mesmo”( https://btc.talentlms.com/).

Que Bom estarmos juntos neste percurso!